Zeca Camargo, publicou recentemente em seu blog, no site G1, uma matéria sobre a diva do pop Lady Gaga, denominada, "O dia em que Lady Gaga chorou". Zeca, estava presente na noite do show, na matéria destacou a "magia" que ocorreu com a chuva, os fãs, e a cantora, transformando a Born This Way Ball Tour em uma noite mais que especial.
O dia em que Lady Gaga Chorou
Mas, se você não estava lá, dificilmente vai acreditar no que escrevi acima – especialmente se você só leu as, hum, manchetes de boa parte das, hum, repercussões de, hum, críticos na internet, que estavam mais ocupados em destacar o, hum, fracasso de público da passagem de Gaga pelo Brasil, do que em desfrutar da presença de uma verdadeira estrela do pop internacional por aqui. As vendas de ingressos não corresponderam à expectativa dos organizadores, é verdade. Eu mesmo, entre amigos, brinquei que aqueles que integrassem um grupo que eu estava organizando para ver o show do Rio concorreriam a um pacote de viagem para o réveillon 2012! Mas, sem entrar no “jogo de culpas”, entendo que esse resultado tem a ver mais com um erro de cálculo justamente de quem estava trazendo Gaga do que com a capacidade da cantora de vender ingressos. Essa suposta decepção na escala da turnê “Born this way” no Rio, como foi largamente alardeado na internet, diz respeito a um público “modesto” de 40 mil pessoas. Você gosta de números? Então vamos dar uma relativizada – com informações que pesquei aqui mesmo, na internet. A escala imediatamente anterior ao Rio, foi Bogotá, na Colômbia – onde Gaga colocou 25 mil pessoas no estádio “El Campin”. Antes disso, ela cantou em San Juan, Porto Rico, para um público total de 15 mil pessoas. Voltando um pouco mais no tempo, na despedida da perna europeia da turnê, um show em Nice (França) bateu 9 mil pessoas. Em Barcelona, foram 20 mil. Berlim, 15 mil. Tudo bem que em Paris Gaga juntou 71 mil pessoas. E tudo bem que o Parque dos Atletas estava na sexta com “apenas” metade da sua capacidade total de 80 mil pessoas – afinal, ele foi projetado para abrigar nada menos do que o maior evento de música, o Rock in Rio. Mas olhando esses números, no geral, dificilmente você poderia chamar o show do Rio, com seu público de (lembrando) 40 mil pessoas, de um “fracasso” – ainda mais quando você olha todo o contexto de uma volta ao mundo que totaliza nada menos de 113 concertos (“Born this way” termina só dia 16 de março de 2013 com uma apresentação em Miami, Florida). Porém, o que são fatos diante do “prazer” de digitar uma alfinetada deliciosa direcionada a uma celebridade? Essa, infelizmente, é a lógica distorcida do mundo virtual.
Não quero, com essa ponderação, defender a “pobre” Lady Gaga – que, diga-se, não precisa de defesa nenhuma. Como todos que vêm aqui com certa frequência sabem bem, sou fã de suas músicas, e tornei-me um admirador pessoal depois de ter feito duas entrevistas com ela – a mais recente delas, em abril do ano passado. Como contei aqui mesmo neste blog , na ocasião ela foi divertida e generosa o suficiente para ultrapassar com folga os 10 minutos protocolares que geralmente marcam esses encontros com celebridades: “Estou gostando dessa conversa, vamos em frente”, disse-me ela então. Mas isso não significa que tenho automaticamente um viés para avaliar um bom show quando me deparo com um deles. O que quero assinalar é que na noite do último dia 9 eu estava presenciando mais um grande momento do pop: Lady Gaga no Brasil.
Desenvolver um longo argumento aqui a favor do show não vai converter quem não é fã da cantora. Eu poderia destacar a criatividade “trash” dos figurinos – eram 18 mesmo? Poderia elogiar os sucintos e eficientes novos arranjos de sucessos, que permitiu que virtualmente todos eles marcassem presença no “set list” – meu favorito foi “Just dance”, mas eu divago… Poderia exaltar a energia (e também uma certa teimosia) da própria Gaga, que não se intimidou com a chuva nem por um segundo. Poderia ampliar deliciosos detalhes visuais da performance – como a cara aumentada da cantora, que de vez em quando aparecia enorme dentro de um prisma de neon. Poderia até aplaudir os discursos (talvez um pouco ensaiados demais) em favor das diferenças e da liberdade de expressão – que são sua marca e não ficaram de fora, claro, na passagem pelo Brasil. Mas acho que, para dar uma ideia do que aconteceu ali na, hum, Cidade do Rock na estreia brasileira da artista, o melhor é eu me concentrar em apenas um momento: aquele em que Lady gaga chorou.
Foi naquela parte em que ela chama alguém do público para subir ao palco – algo que está longe de ser novidade em apresentações de grandes estrelas (lembra de Bono fazendo isso?), mas que naquela noite funcionou como nunca. Enquanto recuperava o fôlego, e ajudada por dois bailarinos, ela escolhia quem seriam os privilegiados desse ritual (que ela vem repetindo pelo mundo) entre aqueles que estavam mais próximos do palco. Um dos sortudos foi um garoto chamado Leonardo, de 18 anos, que mora em Teresópolis (região serrana do Rio de Janeiro). Você deve ter visto seu rosto – em vários clipes “piratas” facilmente encontráveis na internet da hora em que ela cantava “Hair” no palco, ele está sentado à direita de Gaga. Ou melhor, você deve ter visto o rosto de Leonardo aos prantos, fracassando a cada momento em que tentava controlar a emoção de estar ao lado de seu ídolo supremo. Era demais para seu “coraçãozinho”. Aliás, foi demais para o “coraçãozinho” da própria Gaga!
Foi ali, com ele e mais dois fãs ao seu lado, que ela, às lágrimas, cantou e fez uma espécie de declaração de amor ao Brasil. Reconheço: dizer que o show de determinada noite é “o mais incrível/emocionate/surpreendente” de uma turnê é um dos mais surrados lugares-comuns do mundo do show business. Mas ali, naquela hora, o depoimento de Gaga pareceu-me dos mais genuínos. Depois de algumas poucas horas intensas no Rio, alguma coisa forte “bateu” na artista – e ali estava ela tentando traduzir o que tinha sentido. Suas palavras não transcenderam um nível muito superior a um punhado de clichês, mas eu tive a impressão de que a expressão do seu rosto dizia mais sobre o que acontecia com o coração de Gaga do que a própria voz que saía da sua boca. Falando sobre troca, sobre generosidade, sobre honestidade, sobre carinho, ela tentava definir o que tinha acontecido com ela aqui no Brasil. Mas eram suas lágrimas que davam uma explicação mais honesta do que se passava dentro dela. Seus súditos então – ou como ela mesma prefere chamá-los, seus “monstrinhos” – entenderam tudo. E se emocionaram também.
No momento em que concluo este texto, não tenho notícias ainda de como foi sua passagem por São Paulo, na noite de ontem. Tampouco posso prever o que vai acontecer amanhã em Porto Alegre. O que sei é que sua apresentação no Rio, para aqueles “magros” 40 mil espectadores foi coisa de Artista – com “A” maiúsculo mesmo, que, como eu costumo brincar de vez em quando é diferente de artista com “a” minúsculo. E que ali, em cima daquele palco, cantando numa noite que alguns tentaram vender como “flopada”, Lady Gaga fazia mais bem para o mundo do que meia dúzia de “descolados” sentados em casa com seu smartphone na mão soltando gracinhas sobre um show que não viram – e se escondendo atrás de uma “poker face”…
E eles ainda pensam que estão fazendo uma revolução… Revolução para mim é o que Gaga faz – aliás, ela e um bom punhado de artistas competentes que me dão prazer e orgulho de viver nos tempos que vivo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário